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Um dos fundadores da Wu Ming visita o Telecentro Cid. Tiradentes
Admirado com o projeto, Roberto Bui elogia a iniciativa da Prefeitura
Em visita ao Brasil, o italiano Roberto Bui, um dos fundadores do Wu Ming, um projeto literário que luta contra a lei de propriedade intelectual (copyright), conheceu o Telecentro Cidade Tiradentes, no dia 30 de novembro.
Sua entidade, definida como um laboratório de design literário que trabalha em diversas mídias e que já criou diversos livros, é uma empresa que faz uma produção independente de obras de diversas pessoas, responsáveis por trabalhos na Itália e outros países como Espanha, França, Inglaterra e Brasil.
O Wu Ming renuncia a quaisquer ganho proveniente de traduções em espanhol das suas obras editadas em Cuba. Esta medida pretende contribuir para o relançamento das atividades editoriais e culturais na ilha, que passam por dificuldades graças ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos.
O objetivo é criar um coletivo, valorizando a cooperação social na produção e no conteúdo dos trabalhos literários. Assim como os softwares livres, o Wu Ming luta contra a propriedade intelectual para dar mais liberdade e vigor cultural, o que não é possível com restrições de copyright de editoras e outros meios, como gravadoras.
Admirado com o projeto de inclusão digital da Prefeitura, Bui comentou suas impressões e falou sobre sua entidade:
Governo Eletrônico - Qual foi a origem do nome Wu Ming?
Eu e Giovanni Cattabriga (outro fundador do projeto) estudamos mandarim. Esta expressão, que significa "estado permanente de ignorância", corresponde à nossa convicção do futuro da humanidade, como a falta de consciência ecológico-social, falta de crítica sobre desigualdades sociais.
GE - O Wu Ming tem boa repercussão na Europa, com incentivo à trabalhos de vanguarda e alternativos.
De fato, temos obtido sucesso na Europa. Podemos dizer que já temos influência na cultura e opinião pública italiana, com artigos em jornais.
GE - Qual a sua opinião sobre a pirataria de produtos?
Vejo de forma positiva. Sobre esta expressão, prefiro chamar de comunidade. É uma forma de dar liberdade e propagar ainda mais a cultura. Um CD, por exemplo, custa muito caro, o que mostra as restrições dos direitos autorais, cujo preço é alto. Isto é um obstáculo a veiculação e acesso aos produtos, às obras.
É necessário ter liberdade para criar, divulgar e compartilhar qualquer trabalho, tornando assim a cultura mais acessível a todos.
GE - Como vocês vêem os softwares livres, que também fazem parte de uma comunidade livre que se opôe ao copyright?
Para mim, trata-se de um dos fenômenos culturais mais importantes nos últimos anos e que mudou a maneira de pensar a informática. Assim como nós, os softwares livres visam a coletividade de quem cria e desenvolvem os produtos, compartilhando-os sem nenhuma restrição, fazendo frente à poderosa multinacional Microsoft. Isto é ótimo, pois dá liberdade para criar e divulgar qualquer programa.
GE - O que você pensa a respeito do Telecentro, um projeto municipal que com o objetivo de propagar o conhecimento de informática à população carente utilizando softwares livres?
É extremamente importante. Esta iniciativa é fundamental não só no Brasil, na América Latina, mas em todo o mundo. Temos um contingente de pessoas que não têm acesso e não possuem conhecimento algum de informática. Projetos como este são imprescindíveis no combate a esta falta de conhecimento, levando informação a quem necessita. Na Itália, algumas cidades de governos de esquerda adotam um programa semelhante.
GE - E qual foi sua impressão sobre este projeto da Prefeitura de São Paulo?
Estou muito impressionado. São Paulo é a terceira maior cidade do mundo e tem diversos problemas. Mesmo com estas dificuldades, a Prefeitura lançou um projeto que desperta grandes esperanças na capacitação de comunidades carentes. Saber e constatar aqui na Cidade Tiradentes que cerca de 150 jovens da região trabalham com computadores é muito bom. Gostei muito de ter vindo ao Brasil e, certamente, é inspirativo para mim.
31/10/2002